Sinopse

A convite da Companhia Nacional de Bailado, Tiago Rodrigues escreve e dirige uma peça em torno da memória do corpo da bailarina Barbora Hruskova. Em diálogo com o piano de Mário Laginha, que está em palco para interpretar a música original que compôs para este espetáculo, Hruskova revisita a sua carreira e as marcas que essa vida na dança traçou no seu corpo.


O meu corpo não foi feito para dançar, mas eu nunca fui capaz de resistir à música. Quando era criança, obriguei o meu corpo a aprender a dançar. Ele obedeceu, mas contrariado. Eu, feliz, entreguei-me à música. Música é matemática, mas eu não gosto de contar. Em vez de contar música, prefiro contar histórias enquanto danço matemática. Divido tempo, multiplico gestos e adiciono dores. Cada dor no meu corpo, corresponde a um espetáculo de dança. Já danço há mais de 30 anos. Tenho uma coleção de dores. Quando ouço Prokofiev, dói-me o joelho. Quando ouço Sibelius, doem-me as costas. Mas nem tudo é dor. Gosto de ir cedo para o palco, quando ainda só lá está o afinador de pianos. Isso é a minha alegria antes da alegria dos outros, a calmaria antes da tempestade. As escalas da viagem antes do país de destino final. Não sei bem de que país sou, acho que a minha terra natal é o teatro porque é o lugar onde me sinto em casa. Já fiz as contas e tenho a certeza de que já passei mais horas da minha vida a dançar do que a dormir. Sonho mais quando danço do que quando durmo. Quando danço, tudo parece um sonho mas, como tenho dores, sei que é real. Dançar dói, mas dói mais quando estou parada.

Tiago Rodrigues — janeiro 2015

Estreia absoluta
Lisboa, Teatro Camões, 5 de fevereiro de 2015

Ficha Técnica

Barbora Hruskovabailarina
MÁRIO LAGINHAmúsica e piano
TIAGO RODRIGUEStexto e direção
CRISTINA PIEDADEdesenho de luz
Raquel Andréassistente de encenação
Marco Arantesdesenho em ardósia
FIGURINOS EXECUTADOS NO ATELIER DA CNBsob orientação da Mestra Paula Marinho

Imprensa

PÚBLICO
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Digressão

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